quarta-feira, 14 de novembro de 2007

A favela é um problema social.



Principalmente porque meu querido professor me pediu, mas também para aprender mais sobre a desigualdade socio-econômico no Rio de Janeiro e os processos ideológicos que preservam o dinâmico entre os favelados e o resto da população do Rio, li o artigo “Aldeias do mal,” escrito por Romulo Costa Mattos, doutorado em história. Mostra a trajetória histórica dos estigmas e atitudes sobre as favelas do Rio de janeiro, desde seu surgimento no início do século XX até agora com idéias pouco renovadas e explica a percepção popular das favelas como problemas de higiene e segurança e sugere que uma interpretação mais adequada seria o reconhecimento dos processos capitalistas que criam condições de desigualdade social e econômica. Nessas circunstâncias os marginalizados do Rio de Janeiro fazem suas vidas nos morros da cidades e são eles que sofrem mais com a violência nessas áreas.

A equivalência entre pobreza e periculosidade é uma crença tão comum como errada. De acordo com o autor, uma observação pertinente é que são os indivíduos de menor renda anual que são as vítimas mais freqüentes de crimes violentos. Um estudo sobre o uso de armas de fogo feito por Tulio Kahn afirma que "as maiores vítimas das armas de fogo, são os homens, jovens, e pobres, moradores da perfiferia." Esse tipo de violência vem de uma falta de recursos para oferecer oportunidades para que todos tenham uma vida digna sem envolver-se no mundo do crime. Porém, a solução desse problema da violência não é acabar com as favelas, pois elas não são as causas do problema, mas são produtos de um problema maior fundamental da sociedade. Dizer que as favelas prejudicam a segurança pública é uma mera inversão do problema real.

A propensão de estigmatizar os pobres é presente no mundo todo e permite que a a grande população vivendo em pobreza e miséria permaneça marinalizada. É importante desconstruir esse discurso e reconhecer o verdadeiro raiz da pobreza para poder diminui-la.

DA CELA DE AULA À SALA LIBERTA

“A responsabilidade é pesada, o trabalho é árduo; mas o prazer, a satisfação de viver palavras tão oportunamente concatenadas, ou tão certas, ou tão belas, compensa tudo.
Se o público compreendê-las, assimilá-las e amá-las, teremos lucrado nós, eles,e o País também. Se isso não acontecer a culpa será principalmente minha, mas pelo menos guardarei dentro de mim a consoladora idéia de que tentei.
Por isso escolhi a Liberdade...”

(Paulo Autran, sobre a peça Liberdade, de Millôr Fernandes e Flávio Rangel, na qual atuou em 1964, logo após o Golpe Militar)
foto: ZOCCHIO, M, BALLARDIN, E. Pequeno Dicionário Ilustrado de Expresões Idiomáticas. Sâo Paulo: DBA, 1999.

Estamos encerrando um ciclo. Desde julho deste ano, eu convivo com essas “figuras”, falando da “boca pra fora”, se não sobre tudo, sobre quase tudo. E tem sido assim desde o começo. Antes, éramos sete. Dois “desertores” preferiram outras disciplinas, as ruas, o povo, as praias, as suas pesquisas individuais e, por não precisarem dos créditos, foram embora. Lamento muito, Owen e Frank, pois fizeram muita falta, principalmente na última parte do curso, pois, por motivos diferentes, dariam contribuições muito interessantes com discussões e textos escritos e palavras cantadas. Mas de alguma forma, estão aqui, em nossas palavras, em nossas discussões, pois acreditamos de verdade que não somos os mesmos depois de conhecermos novas pessoas . Além do que, suas razões para não continuar são justas, ainda mais que estamos falando de liberdade.

E os que ficaram? É deles que eu preciso e quero falar, dos que tiveram a liberdade de ir, mas ficaram. Foram tantos pontos de vista expressos, tantas discussões produtivas, tantos gestos de solidariedade, tantas impressões, tantos estereótipos desmontados, tantas questões sobre a língua portuguesa e a cultura brasileira, tanta alegria e tanta angústia partilhada, que eu não poderia deixar de registrar aqui essa sensação adiantada de saudade. Estamos acabando um ciclo, avançadíssimos estudantes de português. E agora? Como é que fica?

Para não chorar sobre o leite derramado , vou fazer um breve balanço de nossas atividades. Nesta fase do curso (de agosto até aqui), demos ênfase à leitura de textos escritos e audiovisuais, como ponto de partida para discussões, produção de novos textos, expressões de pontos de vista, discordâncias, argumentações, negociações de conflitos e de sentidos, de modo que o estudo da forma (as tão invocadas “regras gramaticais”) era uma conseqüência e não a causa do processo. Os poucos exercícios estruturais foram trazidos ou produzidos a partir das ocorrências detectadas na produção dos estudantes, ou mesmo a partir de suas solicitações. Optamos por ler e escrever ao máximo, e principalmente estimulamos a socialização dos textos lidos e produzidos por esses estudantes, ponto no qual o blog foi a ferramenta fundamental.

Tive a possibilidade de experimentar, arriscar, errar, rever, experimentar outras possibilidades e ajustar o planejamento aos interesses de quem realmente precisa do curso. O lado bom de lidar com estudantes de proficiência de nível intermediário para cima é que podemos cometer erros sem que as conseqüências sejam graves. Por isso, experimentei distribuir vários livros curtos de temas e gêneros variados, originariamente destinados a estimular a leitura entre estudantes da rede pública. A idéia não era original (nada aqui é): cada um apresentava o texto que estava lendo, com a recomendação de ser objetivo na medida do possível, já que os outros não tinham lido o texto apresentado. Apesar de ter várias alternativas (eles tinham a liberdade de trocar o livro, se não gostassem), a sistemática não funcionou. Alguns dos livros eram ou infantis demais ou específicos demais. Além disso era difícil para cada um manter a atenção dos colegas quando apresentava um livro que ninguém mais tinha lido e naturalmente eu não tinha como ler todos os livros, o que se tornou outro fator complicador.

Foi então que tive a idéia de selecionar três livros para uma leitura em comum. Defini alguns critérios. Tinha que ser escrito por um(a) autor(a) brasileiro(a), tinha que ser em prosa, tinha que ser contemporâneo, tinha que tratar de temas da cultura e da história do Brasil que pudessem ser amplamente discutidos em sala, que suscitassem outras leituras e abordagens. Os livros eram “Felicidade Clandestina”, de Clarice Lispector, “Em Liberdade”, de Silviano Santiago, e “Estação Carandiru”, de Drauzio Varella. Justamente este, o único que não tinha lido (só conhecia o filme), foi o escolhido pela turma. Era o livro de que menos gostava para este fim, pois apresentava muitos diálogos em registro informal, de variedades lingüísticas cruzadas por fatores regionais, etários e, o pior, com provável processo de estereotipia nas representações das falas dos penitenciários, já que Varella não esclarece como ele registrou os diálogos introduzidos por travessão (o escritor não é lingüista, nem gramático, pra sorte dele). Fazer o quê? Quem pergunta quer saber. Fui pra casa e passei um fim de semana devorando o livro e tudo o que pude ler e assistir sobre o tema do sistema penitenciário do Brasil. Refiz boa parte do planejamento e fui adiante. Uma surpresa boa foi a leitura. Não só parecia ter bom estilo, fácil de ler, sem ser superficial, como tratava de temas que não ficavam encerrados na prisão, que facilmente circulavam entre a sociedade “livre” e o sistema prisional, estabelecendo um diálogo muito interessante. O problema da “estereotipia” das falas dos reeducandos persistia, mas resolvi tratar disso antes de iniciar a leitura com o grupo. E não me arrependo, pois nunca tive problemas de partilhar com estudantes as minhas incertezas, as minhas inseguranças. Avisei-os que tomassem cuidado para não misturar os registros diferentes encontrados no livro e seguimos em frente.

Lemos, escutamos e vimos muita coisa a partir do livro. Desde um artigo que trata das gírias de presos que caíram no domínio público no Brasil, passando por artigos sobre a história das prisões no Brasil, sobre ocupação e resistência nas favelas em seu surgimento no início do século XIX, sobre educação nos presídios, dois documentários sobre o sistema penal brasileiro, o rap dos Racionais MC sobre o cotidiano de um “truta” no Carandiru até a assistência ao tão propalado filme “Tropa de Elite” (no cinema da UFBa, sem piratarias!) e ao “Carandiru”, de Hector Babenco. Dessa forma, não só demos conta de várias abordagens do mesmo tema, evitando-se o discurso monolítico e estéril imposto pelo professor, como também passeamos por uma razoável diversidade de gêneros lingüisticos, textuais, artísticos e formais. Saímos da sala de aula, não só para assistir aos filmes, mas sobretudo para ter uma melhor dimensão da problemática da violência e da desigualdade social do Brasil. Naturalmente, nossa abordagem não se pretende antropológica, sociológica, histórica, mas sem dúvida o panorama proporcionado pelos textos diversos, dentre os quais alguns estão citados acima, se não ajuda a esclarecer sobre como se dão as relações sociais no Brasil, pelo menos ofereceu questões muito interessantes para discutirmos, discordarmos, revermos posições, nos indignarmos, refletirmos sobre as possibilidades de mudança, compararmos com a realidade dos Estados Unidos e de outros países; ao longo e depois do que era possível adquirir novo vocabulário, novas estruturas lingüísticas, entender certas construções não-padrão de largo uso entre os falantes nativos, perceber a distância entre a variedade padrão e as outras variedades e a simetria da distância entre as classes sociais e suas implicações raciais no Brasil e todas as ambigüidades e contradições observadas.

Ao lado de todo esse processo, tínhamos o blog. Este tornou-se um instrumento privilegiado de interlocução entre mim e a turma, e o mais importante, entre a turma e outros brasileiros e estrangeiros que surpreendentemente têm feito comentários dos mais variados tons aos textos de meus estimadíssimos estudantes. Confesso que minha vaidade fica emplumada ao ver que meu mérito não está em criar, controlar, ditar, mas sugerir, indagar, instigar, provocar, insistir e ver os resultados fugirem do meu controle. O blog nasceu de um projeto que elaborei e apresentei a eles, mas quem o criou mesmo foi Alida, quem o batizou foi Michelle, quem escreve nele são Michelle, Alida, David e Baird, que também têm a liberdade de negociar as pautas e têm a última palavra nas correções (sim, eu corrijo os textos, mas nem sempre eles acatam e às vezes deixo passar alguma coisa!). Este inclusive não é o último texto do blog. Além dos trabalhos finais maravilhosos que eles estão preparando (aguardem!!!), espero que os autores não deixem de usá-lo como forma de praticar o português escrito e principalmente como forma de preservar os laços criados aqui.

Espero também que eles tenham entendido a proposta de trabalho, que não desistam nunca de aprender e aprimorar o domínio da quinta língua mais falada no mundo, que não deixem nunca de quebrar a cabeça com a cultura e a sócio-história do país da diversidade e da adversidade, e que escrevam sempre que puderem para o quase ex-professor de português. E que continuem os comentários às publicações.

Enfim, que tenha ficado claro que é para fora da sala de aula que o nosso trabalho se dirige. E que a liberdade não seja condição apenas para quando se está fora da sala, que ela exista como condição fundamental para qualquer aprendizagem, para qualquer tipo de convivência, para todas as pessoas, de qualquer nacionalidade, estejam onde estiverem. E que o mundo (e não só o Brasil!) fique melhor o suficiente para que as nações tenham suas soberanias respeitadas, que todos tenham liberdade de ir e vir e viver dignamente, que os presidiários não sejam tratados como bichos (e que os bichos sejam tratados como gente!), que os policiais e agentes penitenciários não sejam tão mal-remunerados e despreparados ética e tecnicamente. Que a discussão sobre Direitos Humanos seja cotidiana e atravesse disciplinas acadêmicas e mesas de bar e cafés da manhã, que se transforme em gesto, seja conversando com a empregada doméstica ( de verdade, tentando conhecer a pessoa e não a vendo como alguém que deve estar feliz por ter um prato de comida), seja pensando em estratégias mais eficazes que a caridade e a indulgência para encarar a desigualdade. Para que, enfim, não precisemos, não importa em que lugar do mundo, viver armados ou protegidos por pessoas armadas, morar ou estudar ou trabalhar em lugares em que o sol também nasce quadrado ou nem pode ser visto por causa de um grande muro, que nos protege (?) do medo ao mesmo tempo que nos faz também prisioneiros atrás da grade de ferro.

Alex Simões
O verdadeiro “gringo” aqui, ou que aprende com os gringos a ver a sua língua e a sua cultura como se fosse um.

Cela de Aula

O Brasil, como qualquer país, tem um problema de superpopulação na cadeia. Uma idéia proposta para evitar que os presos voltem ao crime é um sistem educacional dentro da mesma prisão. Atualmente, mais de 10,5% dos presos são analfabetos, embora só 18% deles estejam envolvidos em atividades aducacionais.

Existem várias razões para a falta de interesse dos detentos, tais como falta de infraestrutura e uma difícil relação entre a segurança da cadeia e a educação. Tem também a concorrência do programa educacional com o programa da chamada "remição." Este programa é lavoral e faz com que, por cada três dias trabalhados, se reduza um dia da pena do preso. Atualmente, 45% dos presos participam do programa de remição, que também é remunerado.

Não obstante, agora estão criando-se programas para os mesmos presos criarem professores na cadeia. Este programa é responsável pela criação do chamado "preso-monitor." Presos escolhidos mediante um concurso fazem uma aula para se prepararem de seis horas cada dia por dois meses. O programa preso-monitor tem várias vantagens. Primeiro, motiva os presos a estudarem e virarem professores também. Segundo, às vezes pode até inspirar o preso-monitor a deixar o crime e se dedicar à educação, como no caso de Marco Roberto Santos de Abreu que entrou em Pedagogia no ano passado com 50% de bolsa.

Todavia, tem-se que lidar com o problema de refeição. Esse sistema, também, está mudando. Embora ainda não seja uma lei nacional, 15 estados já costumam oferecer a remição em troca de estudo, processo começado por Carlos Fonseca Monnerat há 9 anos. O juiz fundamenta a decisão no conceito de que no Brasil, ninguém vai preso para sempre, e têm que existir programas para a reintegração dos presos na sociedade. Hoje, uma lei para oficializar esse mecanismo está no Congresso Nacional.

Finalmente, cabe dizer que não é de surpreender a falta de interesse na educação carcerária no país onde mesmo em liberdade, as pessoas não se interessam muito. O juiz Carlos Fonseca Monnerat insiste em que tem que solucionar aquele problema primeiro.

terça-feira, 13 de novembro de 2007

Escola carcerária

Será que um prisoneiro da cadeia se beneficiaria de aprender a escrever, ler, fazer aritmética? Já no século XIX , algumas cadeias tinham salas de aula nas quais os prisoneiros podiam aproveitar os ensinos de um professor-prisoneiro, e pode ser em várias prisões que tem, ainda. Eu lembro de ter ouvido falar de trabalho feito pelos prisoneiros no meu estado de Nova York, mas a escola é uma novidade para mim. Para as pessoas que vão, eventualmente, sair da prisão, eu acho que é uma boa idéia que usem o seu tempo atrás da grade de ferro para se educar, assim se preparando para sair do crime. Mas se eles usassem esse tempo para organizar uma revolta em massa contra o sistema?
Se você achasse que os estudantes-prisoneiros já não estão bem ligados numa rede, se não for em várias, com o mundo dentro assim como fora da prisão, pode ficar feliz na sua ingenuidade. Não vou dizer nada. Eu também nunca visitei uma cadeia e não sei como funciona o mundo de crime; tudo que eu sei é que mesmo com uma força policial continuamente aumentando em tamanho e em capacidade e usando novas técnicas, o crime persiste ainda. O que quer dizer isso? Quer dizer que os criminosos, em geral, estão sempre um passo na frente dos policiais. Eles não ficam no crime por pura sorte; ao contrário, têm que saber se virar. É outro tipo de inteligência. É aquela que você não aprende dentro da sala de aula. É a inteligência da rua.
Agora, eu comecei a viajar um pouco no meu tema, mas isso é bom, e vou viajar um pouco mais: como será se dois meninos se juntassem - um com a sabedoria dos livros, outro com a da rua? Eles reinariam o mundo. Mas não, agora essas são bobagens. Ninguém pode "reinar o mundo" através do crime para sempre porque, afinal, é ilegal e vai ficar preso ou morto um dia. E não podemos achar, ou eu, pelos menos, não posso, que dar uma educação aos presos os preparia para melhor se virar dentro do crime. Ao que eu saiba, muito entraram porque não achavam que tinha outra possibilidade. Muitos cresceram nos bairros onde já existia, viam amigos e parentes fazendo coisas ilícitas, e continuaram nos passos desses.
Enquanto escrevo, eu estou ainda em conflito com a idéia da escola dentro da prisão. De um lado, o cérebro humano tem que estar ocupado. Seja pelo trabalho, seja pelos exercícios matemáticos, seja pela religião, nós temos que ocupar as mentes a maior parte do tempo para não enloquecer. Não é possível ficar sentado num xadrez de 1m x 2m, quieto, dia após dia. Já foram feitos muitos estudos que provam isso, mas eu imagino que cada pessoa tem tido experiència com a chatice e sabe do que eu estou escrevendo.
Do outro lado, seria legal poder dizer que a educação carcerária dá uma chance ao prisoneiro para ele obter trabalho legítimo depois de sair da cadeia. Infelizmente, porém, não podem ser negados os preconceitos em relação a um ex-prisoneiro que deseja ser empre gado. Já passou um tempo sem trabalhar, talvez não tenha terminado o ensino médio, não ganhou experiência como os outros empregados que têm estado trabalhando enquanto ele ficava preso, etc. Mesmo se fosse por uma coisa menor, ninguém quer admitir durante uma entrevista que já foi preso.
Enfim, a escola dentro da cadeia? Boa idéia, eu acho. Utilidade fora da cadeia? Duvidosa. Porém, acabei de lembrar daqueles programas scolares que se realizam pelo correio. Se alguém fizesse isso para terminar o ensino médio e/ou obter uma formação de faculdade, isto deve valer alguma coisa.

quinta-feira, 8 de novembro de 2007

"Assassinos no poder"

O artigo de José Claudio Alves com o mesmo titulo do texto que você está lendo agora, da Revista de História da Bibloteca nacional procura denunciar e expor a corrupção e crime de policiais e delegados, entre outros. 2.500 pessoas são assassinadas por ANO só na Baixada Fluminense do Rio de Janeiro. 76 assassinatos por 100 mil habitantes, e 50-100 mil habitantes é o nível de uma guerra segundo a ONU. A guerra no Brasil não é uma guerra típica, é complexa e envolve traficantes e policiais- os dois cometem crimes contra a humanidade, os dois grupos são assassinos. Esse artigo procura expor os grupos de policiais que são milícias, policiais corruptos assassinos que matam traficantes por dinheiro que vem das mãos de comerciantes procurando a segurança das suas empresas e políticos procurando "limpeza social" e mais votos. É incrível e ao mesmo tempo muito assustador que até hoje estes justiceiros continuem matando e ameaçando pessoas. Como vai se resolver o problema da violência nos morros se até os policiais mesmos estão cometendo assassinatos? Segundo o artigo, estes matadores vêm diretamente da Ditadura Militar, onde existiam grupos como os "homens de ouro", que podiam matar sem consequências legais. Muitos vão denunciando estes homens e muitos mais são sequestrados, mortos e silenciados. Nem sempre são os comerciantes ou políticos que pedem assistência destes assassinos policiais, os justiceiros ameaçam e conseguem receber dinheiro em troca de "serviços" como segurança, internete etc. Como vimos no filme Tropa de Elite, até se envolvem no tráfico de armas e drogas. Quem deixaria grupos e homens como estes existir? Nós perguntamos. Como vamos ter tanta barbaridade na nossa sociedade e em especial vinda do governo e da polícia mesmo? Nem todos nós pensamos do mesmo jeito...é por isso em parte a razão pela qual pessoas continuam pagando e pedindo "assistência" destes justiceiros. Políticos que dizem "bandido bom é bandido morto" não são os únicos que são culpados de favorecer a "limpeza social", muitos brasileiros pensam que bandido só tem que apanhar e não deveria ter "direitos humanos" porque são "lixo". Violência não resolve a violência, não já ouvimos isso desde crianças? Este problema é muito complexo e está ligado à marginalização das periferias pelo governo. A discriminação contra estas comunidades pelos jornais e o governo que só as apresentam como berços de bandidos não ajuda em mudar o básico...ter os direitos humanos como uma boa educação...espaço pra crescer...etc. A corrupção do governo, dos policiais também está prejudicando todo o Brasil...Aii...como é que se pode resolver tudo isto...Vivemos num mundo muito torto.

quinta-feira, 1 de novembro de 2007

Observações....

Uma diferença marcante entre a vida da classe média no Brasil e a dos Estados Unidos é a prevalência da empregada doméstica. Lá quase ninguém tem esse privelégio enquanto é uma parte muito normal da vida cotidiana de muitos brasileiros. Uma explicação para esse fenômeno é que não existem tantas maneiras de fazer coisas como preparar comida rapidamente aqui como nos Estados Unidos, mas mesmo assim ainda tem famílias brasileiras que não têm uma empregada e sobrevivem de algum jeito.
Como um estudante estrangeiro é interessante refletir sobre essa questão da trabalhadora doméstica no Brasil porque me parece que seria difícil de aceitar o fato de ter um indivíduo, a grande maioria das vezes uma mulher negra, trabalhando em casa fazendo coisas para nós que nas nossas mentalidades seriam coisas que deveríamos estar fazendo nós mesmos, como lavar a roupa e limpar o banheiro. Porém, depois de conversar com uns colegas, vou assinalar a facilidade relativa com que muitos dos estudantes estadunidenses mudaram de idéia sobre essa questão, o que me sopreendeu bastante.
Entre brasileiros de classes média alta que têm empregadas trabalhando em casa, eu esperei as atitudes que tentam justificar o presente sistema, mas ao conversar com meus colegas estadunidense eu não esperei ouvir os mesmos argumentos de que pelo menos é um trabalho para essas mulheres. Para mim, essa argumentação é problemático porque é um trabalho mal-pago e pouco valorizado que cultiva a continuação de pobreza entre gerações e não permite assenção social. Ouvir afirmação desse sistema de estrangeiros é assustador porque uma das vantagens de examinar uma sociedade com uma perspectiva estrangeira é que facilita o criticismo porque a gente não cresceu com esse sistema então fica muito mais fácil questioná-lo para a gente do que para brasileiros que sempre têm tido uma empregada em casa. Ora, se até nós aceitamos a condição dessas mulheres pobres, indica que vai ser uma luta difícil mesmo mudar essse sistema.
Estou estudando aqui no Brasil em parte para tentar entender a sociedade brasileira, inclusive as relações raciais (questão implícita no tratamento de trabalho doméstico) e para ver se esse estudo revela alguma coisa da sociedade do meu país. Existem muitos paralelos entre as duas sociedades e a questão da trabalhadora doméstica brasileira levanta a questão de existir ou não um situação parecida nos Estados Unidos com a mulher negra presa nas camadas mais baixas da sociedade e se talvez ser por isso que alguns de nós aceitamos tão tranqüilmente essa realidade.

POR QUE????

Por que as pessoas vão ao Brasil? E qual seria o porquê de ele não virem pro Brasil? O Brasil é um país onde se tem muito para fazer, mas que também é uma mistura do bom e do ruim. Primeiro, vejamos o lado bom. Os turistas dizem que a primeira razão pela qual visitam o Brasil é porque tem muita beleza natural. É um país aonde podem ir para ver coisas que nunca viram antes. Segundo, falam do clima agradável do país. O Brasil é o país ideal para que está a fim de ir na praia, afim com muitos países tropicais. Terceiro, as pessoas falaram acerca da ecologia do país, coisa que vai ao par com a beleza natural. Finalmente, os turistas gostaram da população. O Brasil é um país com cerca de 191 milhões de pessoas, a maioria delas simpáticas e dispostas a ajudar quando podem.

Então, sendo um país tão cheio de coisas boas, os turistas não iriam lá por quê? Primeiro, muitas pessoas falam mal da falta de informações. Sobretudo para um gringo ou europeu, esta falta pode ser muito espantosa, como estas pessoas vêm de países onde estão sempre a par das coisas. Segundo, há muito tempo que o Brasil tem um problema de sujeira nas ruas, o que é muito desagradável para nos turistas e para os brasileiros também.

As duas últimas razões são vinculadas. Terceiro tem os táxis, e em quarto lugar está a segurança pública. Por que estas duas coisas são relacionadas? Porque têm a ver com um grande problema no Brasil: o de o brasileiro querer se aproveitar do estrangeiro. Os taxistas quase que sempre cobram caro demais, e a falta de segurança pública permite que este tipo de abuso, junto com o roubo de outras formas, continue.

Ao final das contas, o Brasil é um país como todos, com muitas coisas lindas e também muitas coisas para lidar. Como turistas, as pessoas têm que assumir o fato de que nenhum lugar do mundo é totalmente seguro, e o Brasil não é diferente.

terça-feira, 30 de outubro de 2007

Segurança Pública...não é ameaça de turista

O que é que o Brasil tem para oferecer aos turistas e também aos brasileiros? Em outras palavras, que tem de bom no país mas também, o que tem de mau? Há um tempo atrás, uma pequena pesquisa; o questionário se realizou pela EMBRATUR acerca do lado bom e ruim do país. A pesquisa foi somente para os estrangeiros no país e seus resultados são de alto interesse para os que querem ver a diferença de visão do Brasil dos turistas para os brasileiros. Os estrangeiros tiveram a oportunidade de solicitar quatro coisas que eles gostaram do país e quatro coisas de que não gostaram. As primeiras três respostas na qual tiveram que solicitar coisas positivas do país foram sobre o aspecto físico, ou seja sobre o meio-ambiente. Belezas naturais, clima e ecologia foram os primeiros três bons e os mais variavam com a segurança pública no quarto e ultimo lugar. Na frente da segurança pública se encontram táxis, sujeira das ruas e falta de informações. Quem sabe o porquê destes resultados? Uma coisa que definitivamente sabemos pé que as respostas dos estrangeiros não estariam ao par com as dos Brasileiros, em especial quando relacionado à segurança pública. Os estrangeiros não acham isso tão preocupante, por quê? Acho que é porque não passam o tempo suficiente no país para ver a realidade e que passam a maioria do seu tempo "protegidos" pelos lugares que frequentam, lugares mais ricos com mais segurança. Sobre as respostas das belezas naturais, por que parece que só se fala disto, até entre os brasileiros mesmos? Pode ser porque é a verdade, mas também por um orgulho bastante disseminado. Desde o hino nacional até as músicas populares, o brasileiro parece sempre querer lembrar, ou não esquecer que tem praias "virgens", plantas em abundância e mar até o horizonte. Tanto o estrangeiro quanto o Brasileiro parece tomar este grande elemento brasileiro e coloca ele acima de tudo. Isso faz mal? Pode ser que sim, até um certo ponto esta encobrindo e escondendo o real estado do país. Quando tiver problemas na economia ou governo, vamos relembrar que sempre vamos ter as nossas praias, "embora com esse orgulho de ser brasileiro!" Não sei aonde chegará este exemplo, o mais importante é não usar isto para encobrir coisas boas ou ruins do país. Claro que tem mais que praia aqui! Outra coisa importante, quem está a par da situação da Amazónia sabe que não está sendo cuidada! Se este orgulho fosse tão grande como parece ser, então cadê os movimentos contra as minas de diamantes etc. na Amazónia, "o pulmão" da terra? É hora de trocar nossas palavras por nossas acções. Sujeira nas ruas?, bobagem, falta de informações?, o que?, táxis?, eu não uso...segurança pública?, agora isso sim é algo para preocupar o brasileiro. Os que têm de conviver com a realidade violenta e perigosa do país brasileiro são os brasileiros. O problema é tão grande que as outras respostas, as quais os estrangeiros colocaram na frente da de segurança, não valem nada comparado com a vida cotidiana e a questão do medo quando se sai de casa e mesmo quando se fica em casa. Os assaltos, roubos, assassinatos e transporte pública estão numa condição tão precária que hoje em dia é a preocupação numero um do brasileiro, acima dos outros problemas sérios como salários e emprego. Se não começar um grande movimento e protesto contra a corrupção e perigo do país daqui a uns anos quem sabe aonde vão chegar os problemas? Cerca de 11 milhões de brasileiros já viram o DVD pirata de Tropa de Elite, um filme sobre a realidade dos policiais corruptos do Rio de Janeiro. É agora o filme Brasileiro mais popular e mais assistido de todos os tempos. Isto é só um pequeno exemplo que nos diz quanto valor tem a segurança pública às vidas dos brasileiros. Ao fim, a praia do turista sem informações da cidade é trocada pela preocupação com a segurança de um brasileiro no trajecto entre a casa e o trabalho.

terça-feira, 16 de outubro de 2007

Trabalho Voluntário

Eu trabalho com Alida, no Nordeste da Amaralina, Na Creche Coração da Mamãe. Trabalhar nesse ambiente tem sido uma experiência totalmente nova para mim, por várias razões. Primeiro, é a primeira vez que eu trabalho com crianças dessa idade (9, 10 anos.) Segundo, eu nunca tinha visto um lugar como a Creche Coração da Mamãe. É um lugar ao mesmo tempo incrivelmente inspirador e triste.

Trabalhando lá, vejo uma pobreza impressionante, como nunca tinha visto antes. Falo com professores que já não esperam fazer nenhuma mudança na vida das crianças, e só esperam manter o controle durante a aula. É um fato que a maioria das crianças vem de famílias nas quais pelo menos tem um integrante envolvido com droga, ou que está preso. É também um fato que a maioria das crianças acha isso normal.

Não obstante, ao mesmo tempo, a Creche Coração da Mamãe pode ser um lugar extremamente feliz. O conceito da escola é lindo. É totalmente de graça, mantida por doações e pelo estado, e quem pode pagar, paga. Quem não pode pagar com dinheiro, paga de outra forma, por exemplo, ajudando nas aulas, fazendo almoço, etc.) Dar aulas na Creche, embora seja difícil e pareça que não faz muita diferença, faz SIM alguma coisa. Como professor, eu tenho que lidar com a realidade que o que eu estou fazendo não vai mudar a vida de muitos dos meus alunos. A realidade é que, tendo nascido no Nordeste da Amaralina, muitas dessas crianças já nasceram condenadas. Mas é importante manter em mente que, talvez, meu trabalho possa mudar a vida de pelo menos UMA dessas crianças. Mesmo que eles não aprendam nenhuma palavra em inglês, eu acho que é importante a gente ir passar um tempo com eles, para eles verem que existem outras formas de viver a vida, além de traficar, além de roubar. Talvez a gente possa inspirar uma dessas crianças tanto para que se diga, "Eu quero viajar a outro país algum dia, como eles. Como é que eu posso fazer isso?" Não sei. Às vezes é difícil manter o ánimo para continuar lá, mas é essa esperança que faz com que eu volte.

quinta-feira, 11 de outubro de 2007

A Família de Intercâmbio

Como é, de repente, aceitar uma pessoa completamente desconhecida na sua casa por um tempo incerto, aceitando ela como parte da família? E bem, eu faço esta pergunta porque eu adora a família com que eu estou morando aqui no Brasil, mas quero saber como minha chegada foi para eles porque isso é uma coisa que você não pode perguntar, realmente, eu acho. De fato, esta é a minha segunda família, quer dizer, eu mudei de família depois dos primeiros dois meses. Pára aí - devo começar no início, não é? Tá bom, então, pois vou recuar três meses até o dia 27 de junho, 2007, meu primeiro dia no Brasil.
Cheguei atrasada no hotel em Salvador, um dia e meio mais tarde do que pretendia por causa de tempestades em Atlanta (no estado de Georgia, EUA) que atrasaram milhares de pessoas. Achei, realmente, em um momento que ia voltar a Nova Iorque, só que não queria gostar mais de um mil de dólares só para ir a Atlanta e voltar. Enfim, cheguei, finalmente, e a manhã seguinte conheci a minha "família" pela primeira vez. É uma família muito rica - basta dizer que tem três carros e vai comprar um quarto quando o filho tiver 18 anos logo, logo. Sempre me sentia desconfortável com algumas coisas que eles diziam, com relação à pobreza e ao racismo no Brasil, mas tentei ignorar para integrar-me na família. Infelizmente, essa família não foi a família para mim, e o momento em que me dei conta disso, soube que tevia de mudar para finalmente gostar de estar no Brasil. Não quero entrar nas detalhes, só vou dizer que eu não pude me adaptar às suas vidas - não gosto de assistir à tevê o tempo todo, não falando com ninguém, não agüento que uma empregada doméstica seja tratada como um escravo, não acho que os ricos nem os brancos são melhores do que os outros, enfim, continuemos.
Minha família agora foi um presente de Deuz, com uma funcionário de CIEE como o anjo que nos presentou. Conheci eles uma segunda-feira de noite e a manhã seguinte eu desfiz minhas malas no meu novo quarto.
É engraçado como eu entrei na família, mas eu a adoro, então tento fazer tudo para eles gostaram muito de mim. tenho um irmão de 13 anos que é "o homem" do prédio, futuro como jogador de futebol famoso, adolescente típico que gosta de filmes de terror e ação e só fala o mínimo necessário - assistimos aos "Simpsons" juntos. Meu irmão de 17 anos é o mais calado da família mas é um coração que vai comigo fazer tudo - capoeira, cinema, shows de jazz, a casa de uma amiga para assistir à novela das oito, enfim, é o meu novo amigo. O pai é recém-separado da mãe dos meninos e, como todo mundo é homem, ninguém fala disso, então eu só tento ser uma força positiva nas vidas deles. A avó, que está morando com a gente atualmente, é a única pessoa que fala sobre isso comigo, e está muito feliz que eu esteja ali porque se preocupava - normal - pelos meninos que passavam muito tempo na frente da tevê e do computador. Então, eu só comecei a pensar muito mais em como foi para eles, há duas semanas quando cheguei como se do lugar nenhum, quando brincava com a minha nova "prima" de quatro anos para quem foi muuuito difícil - uma tarde inteira - de aceitar que a avó dela teria uma outra neta. Mas ela tem razão - deve ser difícil, mesmo se for para o melhor, mudar seu ritmo de vida e sua casa para acrescentar uma nova pessoa. Sei que a minha mãe e o meu pai adoraram "adotar" uma "filha" francesa por um ano, então deve ser assim, pessoas que gostam de ser os anfitriões de uma pessoa estrangeira que, eles esperam, seja aberta a novas experiências e a uma nova cultura. Quer dizer, deve ser isso uma boa família de intercâmbio, como a minha, porque claro que tem muitas outras que só se inscreveram pelo dinheiro pago, elo programa que todo mundo já sabe. Será que eles viriam me visitar nos EUA? Gostaria muito!
Quatro meses em Salvador da Bahia - virei brasileira? Claro que não, nem me sinto completamente confortável nesta cultura, mas pouco a pouco eu estou gostando e aceitando. Estava conversando com Baird outro dia acerca das diferenças entre aqui, os EUA, o Chile (onde ele estudou um ano há três anos) e a França (onde eu fui passar um ano ao mesmo tempo). Nós concordamos do par que o fato de não ter famílias com que estávamos afins se transformou num desgosto geral do Brasil, que só mudou com a mudança de família. Assim, eu sempre concordava com as pessoas entrevistadas pela Embratur que eu mais gosto da beleza natural, do clima e da ecologia daqui, porque mesmo não gostando de onde eu estava, não era possível não gostar de morar cerca de 50m da praia. Se você perguntar a qualquer turista aqui em Salvador por que eles escolheram esta cidade para visitar, acho que muitos vão dizer que é porque ouviram falar da beleza natural da Bahia.
A lista de coisas mais reclamadas pelos turistas no Brasil, numa pesquisa da companhia Embratur, seria interessante comparar com as dos estudantes de intercâmbio que, pouco a pouco, aprendem a manejar na cidade onde estão a fim de não ser mais "visitantes". Acho que, por exemplo, a "segurança pública" seria nomeada pelos estudantes como mais importante na lista de reclamações do que a "sujeira nas ruas" e "táxis" - por quê? De novo, Baird seria um bom exemplo do alvo de ladrão que sempre tem que prestar atenção extra e estar a par dos lugares por onde passa. Mas ele não é o único americano a ser roubado (várias vezes), e os brasileiros si mesmos são assaltados, assim eu mal tenho confiança na polícia militar que assiste a roubos e brigas sem fazer grande coisa. Quanto aos táxis, é raramente que eu pego - ando mais de ônibus, e em Salvador, pelo menos, tem um exército de taxistas que não se cansa. Ao contrário, eu reclamaria mais da falta de ferrovias e vôos do que os táxis; é por isso que o meu namorado nem vem até Salvador, vai direto ao Rio e vou o encontrar lá. Daqui a alguns meses, os meus pais devem chegar ao Brasil também, e temos que planejar como é que vamos de uma cidade a uma outra, tarefa difícil.
Em planejando, justamente, algumas viagens que eu quero fazer durante este ano, eu me dei conta de uma coisa que, eu acho, tem muito a ver com a reclamação principal da pesquisa da Embratur, ou seja, a falta de informações, que é que os Estados Unidos perdiram o contato humano entre a clientela e a empresa turística. Deixe eu esclarecer um pouco o que eu quero dizer: eu não lembro da última vez que eu falei com um agente de viagem antes de pegar um vôo ou reservar um hotel - tudo eu fazia na internet! Nunca tive contato direto com qualquer pessoa durante o processo inteiro, só com o teclado do meu computador. Por força do hábito de fazer tudo sozinha assim, mais ou menos, fiquei perdida quando não pude achar os preços dos hóteis no Rio de Janeiro. Foi só quando o meu pai (de intercâmbio) me disse que ligaria para a sua agência de viagem para consultar com o agente dele acerca dos vôos e dos hóteis que eu entendi. A internet facilitou as viagens mas me tornou dependente dela a ponto de não poder ligar pessoalmente para uma companhia aerea até eu descobrir que o site não aceitava cartões de crédito internacionais - o que me deixa perplexa ainda, porque eu quero saber como é que os não-brasileiros viajam dentro do país sem ter um CPF; eu paguei ao meu pai depois de ele comprar a passagem, mas se eu não tivesse ele? Aliás, eu não entendo o porquê de não permitir - é dinheiro, mesmo, não é? Enfim, aprendi que tenho que começar a esquecer a internet quando quiser viajar, só serve para dar ainda mais vontade de ir a um novo lugar através do Google "Imagens". Contudo, eu ainda prefiro o Wikipedia, cujas informações, sejam turísticas, científicas, ou humanas, me ajudaram muitas vezes a me orientar.

quarta-feira, 10 de outubro de 2007

Hi, my name is . . .

“Você trabalha aonde?!” Pois, sim, a Creche Coração da Mamãe aonde eu dou aulas de inglês fica no Nordeste de Amarlina, mas é fora da invasão, numa área bastante tranqüila. A escola fica num prédio de três andares com uma cozinha no térreo e salas de aula nos outros andares. Durante o dia as crianças desde a primeira até a quarta série assistem às aulas, vestidas com seus uniformes de camisa vermelha. Entrar na escola de tarde, quando eu dou aula, é uma experiência completamente distinta da de visitar de manhã. Depois do almoço os alunos trocam de roupa e encontram uma reserva escondida de energia para as aulas vespertinas. Cada quarta-feira o Baird e eu subimos a ladeira imensa para chegar na creche e nos esperam entre seis e dezoito alunos atentos da terça e quarta série. Normalmente ensinamos novo vocabulário e depois o incorporamos numa atividade como uma canção, a leitura de um livro, ou uma atividade de desenhar. É sempre uma luta manter a atenção das crianças na lição por várias razões inclusive certa falta de respeito porque somos jovens e não somos daqui.

Às vezes eles realmente prestam atenção e aprendem o material, normalmente quando fazemos algum tipo de jogo, mas outras vezes eles têm energia demais para permanecer sentados e calados. Pedagogicamente, eu acredito que é melhor para os estudantes se movimentarem enquanto aprendem, mas é muito difícil readquirir o controle depois de deixá-los saírem das cadeiras. Porém é preciso fazer algo de interessante ou também fica difícil manter a ordem. Desse jeito, o comportamento dos estudantes realmente tem tudo a ver com o conteúdo da aula. Por exemplo, na semana passada, fizemos um jogo para revisar todo o vocabulário que já aprenderam e todo mundo gostou e participou. Ontem eu apenas apresentei novo vocabulário e ninguém quis prestar atenção. Assim é um desafio contínuo pensar em estratégias de apresentar a informação pertinente de uma maneira efetiva e interessante para todos.

Eu adoro as crianças da minha sala de aula (pelo menos as que vêm regularmente), mas é imperativo ser duro com elas para manter um ambiente de aprendizagem agradável.



Nossa última conquista.

Trabalho de Voluntario...


Eu sou uma pessoa que realmente adora trabalhar de voluntário, em especial com pessoas de culturas ou vidas diferentes do meu, sejam moradores de rua dos EUA ou crianças do Brasil todas minhas experiências tem sido inesquecíveis. Comecei a trabalhar como voluntário com minha Igreja Presbiteriano nos Estados Unidos. Todos os anos do colégio eu viajava dentro dos Estados Unidos e até às vezes a outros países como Honduras e México para fazer trabalhos de voluntário. Cada vez mais que eu via os grandes sorrisos e satisfação das pessoas dos quais eu ajudava, me enamorava mais com ajudar os outros. Tão grande é essa vontade que agora só penso em trabalhar com ONGs Internacionais no meu futuro, em especial esses que trabalham na América Latina. Quero mudar o mundo, sei que posso mudar o mundo e vou fazer tudo no meu poder para melhorar as vidas dos outros. Tenho muita esperança num futuro próximo onde a pobreza vai reduzir e a educação vai melhorar e expandir. Minha vontade e satisfação de ajudar os outros me deixa sabendo que nasci para ajudar os outros. Tenho feito um numero de coisas diversas que tem de ver com o progresso dos outros, mas não estou aqui para falar do meu passado queria tomar um tempinho para explicar minhas novas experiências dos meus pequenos trabalhos de voluntariado aqui em Salvador, Bahia.

Do que eu lembro só tenho trabalhado em três lugares e por relativamente pouco tempo em cada lugar, mas aprendendo muito de diferentes realidades. Com o programa de CIEE tenho visitado uma Creche chamada Coração da Mãe onde falei da importância de exercício na vida cotidiana. Depois de que Joanna (minha colega) e eu falamos das nossas experiências com exercício ensinamos para as crianças como pode ser divertido e saudável uma actividade física. Por quê Joanna e eu dançamos muito fizemos apresentações das nossas danças. Eu dancei Break e ela convidou uma alunas dela para dançar dança afro. Fomos um sucesso em cada aula, as crianças adoraram, mas tenho umas duvidas como também tenho com meus outros trabalhos aqui na Bahia. Durante minha fala sobre exercício parecia que mais da metade das crianças não escutavam, sempre que eu notava isso eu envolvia eles com perguntas e acções. Ainda que lhes envolvi sinto que não escutaram bem ou não ligaram muito à apresentação, só aos performances. Seja como seja, espero que ao menos inspirei umas crianças para dançar, para procurar uma actividade para treinar e amar que lhes levaria fora dos seus bairros e ruas perigosas.

Outro trabalho que me deixou com duvidas foi quando fui com o CIEE à CAASAH um abrigo no Bonfim para crianças com AIDS. Deixamos as crianças felizes e brincamos com eles, mas fomos embora depois de duas horas. Senti algo pesado no peito e algo de errado que me disse que não sei se isso realmente mudaria algo para o futuro. Quem sabe, mas eu acho que essas crianças precisavam de um tempo alegre onde podiam brincar e esquecer por uns momentos das suas situações. Pode ser também que alguém aprendeu ou ensinou uma lição que poderia ajudar alguém no futuro. O trabalho de voluntariado tem de tudo, e às vezes esqueço que não é só trabalhando e ensinando para o futuro mais também cuidando do presente.

O ultimo trabalho do que eu posso lembrar (tenho uma memoria péssima) é o que faço uma vez por semana na Baixa da Égua, uma comunidade carente de Federação. Dou uma aula de arte junto com minha colega do CIEE, Marcela, na academia de capoeira do mestre Marinheiro do grupo Ginga e Malícia. A academia da Ginga e Malícia é um otimo lugar porque oferecem muitas aulas de graça para adultos e crianças, seja capoeira, Inglês, Espanhol, informática...e mais. Uma vez por semana, durante as manhas das quintas-feiras Marcela e eu trabalhamos com varias actividades de arte com entre 7-9 crianças entre as idades de 6-11. Me preocupa muitas vezes este trabalho porque sinto que não estou fazendo tanto para mudar as situações ou pensamentos das crianças. Sei que estou tirando eles da rua, mas muitas vezes as crianças trazem a rua pra dentro da academia. Constantemente estou tentando educar mais estas crianças sobre maneiras de tratar seus amigos sem violência e como ser pacientes e comportados. É difícil, não vou mentir, tem vezes em que tenho que mandar uma ou duas embora porque não me deixam seguir com a aula. Preocupado com a minha situação, falei com uma colega minha do CIEE que tem trabalhado por muitos anos na mesma situação de desordem quando ensinando crianças do seu bairro nos Estados Unidos. Ela me explicou como organizar mais e separar as crianças para se comportarem melhores. Estou agora tentando de seguir umas dicas dela para ver se melhora a situação. Sei que deixou felizes às crianças e que a arte é uma coisa muito importante para deixar eles se expressarem, mas acho que vou procurar outro tipo de trabalho para o próximo semestre porque não sinto que estou fazendo tanto. Sei lá, acho que continuarei com eles, e com minha paciência e o tempo, pode ser que eu lhes ensino mais maneiras positivas de se expressar para eles viverem uma vida sem violência e ódio...

terça-feira, 2 de outubro de 2007




segunda-feira, 24 de setembro de 2007

Coisas pra fazer em SSA


Ultimamente tenho sido confrontado com a pergunta de estudantes de intercambio querendo estudar no Brasil, "São Paulo ou Salvador? ... Qual cidade você sugere?"
Pensando nas diferenças das duas cidades e no conhecimento das duas, sempre respondo com SALVADOR mas sempre deixo claro que é só minha opinhão e explico por que. Porque Salvador? Em primeiro lugar a beleza da cidade numa bahia enorme com uma ilha na frente onde sempre se podem ver por-de-sols belíssimos e únicos. A quantidade de praia em relação ao tamanho da cidade deixa todo mundo tranquilo e sem tanto estresse. O fato de que Salvador é uma cidade historicamente importante e contêm um montão de predios e contos e história antiga para ver e aprender. A mistura das culturas Africanas com o resto da Bahia é mais fortemente representado em Salvador e na Bahia que em qualquer outro estado e cidade do Brasil. Então, o que tem Salvador e a Bahia para oferecer? Tem o Pelourinho, o centro histórico de Salvador onde qualquer dia da semana se podem ver shows ao vivo com ótima música. Bandas como Geronimo ou Olodum são incríveis para assistir e divertidos demais. O Pelô também tem um bocado de lojas e barzinhos, arte nas ruas e museus. Também lá e em outras partes da cidade há igrejas históricamente ricas como a Igreja de Rosário dos Pretos e a Igreja de São Francisco. Salvador tem o Farol da Barra, o farol mais antigo da América Latina, com uma vista belíssima e um museu informativo. Existem mais de dez teatros na cidade onde se podem ver peças e shows. Existem muitos outros locais como Umaitá na cidade baixa e a Igreja do Bonfim. São bons lugares para passear, aprender e relaxar e sempre se pode ver a bela vista da Bahia de Todos os Santos e a ilha de Itaparica. Se quiser comprar não há falta nenhuma de shoppings e praças onde pode-se achar qualquer coisa, seja no novo Shopping Salvador onde tem um cinema novo que tem poltronas para namorados ou no cinema da UFBA também se pode ver todo tipo de filme. Existem também muitas academias de capoeira e outras artes marciais ou as danças onde se pode fazer exercício, se não for à praia para nadar. O Porto da Barra é uma praia muito bonita e calma e um bom lugar para conhecer pessoas. Todos os bairros tem coisas únicas para oferecer, Salvador é uma metropole mas é único na sua maneira de ser tão relaxada e cheia de atividades culturais. Realmente Salvador e a Bahia são o paraíso do que se canta nas canções de artistas como Caetano e Gilberto Gil e não só porque é terra deles mas porque é a verdade. Salvador é um paraíso. claro que existe a violência, perigo e outros fatores, mas na realidade o povo e a cidade juntos são o que fazem a maravilhosa cidade de Salvador ser o que é. Bela, linda, cheia de encanto e cultura é um paraíso único do mundo. E isto é o Salvador sem contar do carnaval!

De tudo um pouco

Como não tenho escrito sobre um tema tão "importante" como os outros, eu sou vou contar umas coisas que têm acontecido ultimamente na minha. E, lógico, vou me queixar, que é o que faço melhor que nada.

Hoje para mim tem sido um dia muito estressante. Acabo de receber um e-mail de minha faculdade lá, dizendo que eu devo 500 dólares, mas eu não faço idéia por quê, e eles não disseram. Isto tem me preocupado muito porque eu simplesmente não tenho 500 dólares para lhes dar.

Se eu der, eu vou ficar sem quase nada, coisa que faria muito difícil ficar no Brasil por mais três meses, que obviamente é necessário. Tinha muitas esperanças de viajar, de conhecer mais deste pais, mais se eu tiver que pagar os 500 dólares, já não vou poder fazê-lo.

Fora disso, devo dizer que a minha atitude quanto ao Brasil tem mudado muito totalmente nas últimas duas semanas. Mudar de casa ajudou bastante, e eu finalmente estou começando a me sentir mais cômodo aqui, e estou fazedo mais amizades com brasileiros, coisa que é boa porque aí eu não tenho tanta oportunidade para falar inglês. Vejo que meu português apenas nas últimas duas semanas tem melhorado muito, por causa de tanto falar. É triste que eu tenha esperado tanto antes de mudar de casa, porque quem sabe como eu estaria falando se o tivesse feito faz dois meses? Agora a única coisa que eu posso fazer é me esforçar e tentar recuperar o que eu perdi.

"Você é uma figura."

Já levo quase três meses aqui em Salvador e naturalmente tenho feito muito das coisas mais turísticas como visitar a Igreja do Bomfim e assistir o Balé Folclorico em Pelourinho. Ainda falta um monte de museus para eu visitar o que provavelmente vou fazer quando minha mãe vem para visitar porque por enquanto as minhas atividades “culturais” têm mais a ver com conhecer os jovens daqui e as atividades deles. Muitos estudantes brasileiros gostam de convidar a galera americana para sair com eles por várias motivações inclusive para fazer a gente dizer palavrões, para rir dos nossos sotaques e para assegurar que eles têm um lugar para ficar de graça quando queiram viajar aos Estados Unidos.


Contudo, eu sempre me divirto muito passando tempo com eles e com cada experiência compartilhada com essa galera eu ganho um pouco mais de conhecimento, senão entendimento, da cultura deles. Uma parte dessa cultura que eu já conheço muito bem é a prática de sempre demorar muito. Alguns brasileiros vão reclamar dessa observação, mas posso generalizar corretamente que quando você marca qualquer atividade com brasileiros sempre vai ter que esperar por alguém em algum momento. Não estou de jeito nenhum dizendo que isso seja um aspecto negativo de sair com brasileiros, mas é importante sempre lembrar que o importante não é chegar a fazer a atividade marcada, mas é que todos estejam juntos enquanto tentam chegar à destinação. Muitas vezes é exatamente por ter que sempre fazer tudo juntos que demoram tanto, mas isso também não tem importância. Emfim, indepentemente do que a gente faz ou não faz é sempre um grande prazer e uma experiência esclarecedora andar com os jovens daqui de Salvador.

sexta-feira, 21 de setembro de 2007

Ser Gay no Brasil


Como é ser gay no Brasil? Na Bahia? De fato, eu não sei como é ser gay nem no Brasil nem nos EUA, mas o outro dia participei da Sexta Parada Gay da Bahia que foi do Campo Grande até o Pelourinho e voltou, como todo mundo dançando e pulando como se fosse o Carnaval em setembro. Eu fui beijada, pegada pelo braço e pelos cabelos e empurrada por todos os lados, e posso dizer que eu não quero esperar que o Carnaval chegue, quero agora!
Mas falando sério, eu tenho amigos gays aqui que me disseram que todo mundo finge não reparar que são gays, mesmo se eles fizessem até quase beijar um outro homem na boca na frente da pessoa. Mesmo assim, as pessoas lhes perguntaram se eu sou ou uma das minhas amigas é a namorada dele. Agora, o que eu quero saber é o motivo daquele pessoa, se é que deseja tanto que o meu amiga seja heterossexual, ou se é que acha que está oferecendo um meio de ser aceito na sociedade brasileira. E se importa, realmente, que uma pessoa seja gay? Na minha escola de capoeira, tem um capoeirista com quem todos os outros brincam com as piadas de "viado" porque sabem que é, e ele não tem problemas com isso. Ao contrário: durante o nosso Dia do Batizado, teve uma roda de samba e se vestiu de mulher e fez uma cena durante a qual dois outros "lutaram" pela direita para ficar com ele/ela.
Falando com colegas de faculdade, tive a percepção de que a sociedade dos velhos tem a reputação de ser machista homofóbica, mas elas querem ser vistas como a nova geração que ~e moderna e aceita as diferenças e individualidades das pessoas. Acho que eu sentiria como elas se sentiram se uma pessoa me perguntasse se todos os americanos são realmente fanáticos religiosos e racistas, especialmente contra os imigrantes. Certo que tem um elemento de verdade em todos os esteriotipos, se não eles não existiriam, mas acho que muito menos dos jovens e as idéias deles concordam com eles. Acho que, por ser diferente do normal só, os gays de todos os cantos do mundo enfrentam hostilidade e discriminação; os casos de violência dependem de casos particulares.
Uma coisa que eu sempre achei triste, contudo, são as mudanças de relações que ocorrem quando as pessoas dizem às suas famílias e aos seus amigos que são gays. Para os pais, como toda declaração que mude a idéia que tinham de seu filho, é difícil porque têm um plano para o filho desde o dia do nascimento, independente dos desejos desse último. Porém, não muda nada do caráter nem da alma, pois acho que deveriam adaptar-se o mais rápido possível para não perder tempo - a vida é curta, afinal - não falando com o filho. Isso, de fato, está acontecendo entre os pais da minha melhor amiga e a irmã dela que, em janeiro, falou para todo mundo que é gay. Quando a minha amiga me contou, já sabia e disse isso, mas os pais passaram mal e ainda eu não sei exatamente como é que estão as coisas entre eles.
É engraçado, também, porque aquele dia eu vi eu não sei quantos casais se beijando na rua, mas como seria o dia seguinte? Poderiam fazer o mesmo ou deveriam esconder sua homossexualidade na frente do olhar público? Uma parada gay não reflete nada da realidade que eles enfrentam no dia-a-dia, mas sim é uma representação do ideal que pretendem ter um dia, e quem sabe quando se realizará. O que eu sei é que eu quero que todos os meus amigos tenham o direito de ser eles mesmos e que tenham os mesmos direitos, na frente da lei e da sociedade, que eu tenho. Quero que todo mundo, de fato, não só os que são meus amigos, tenham esses direitos. Quero que se sintam confortáveis estar de mãos dadas, se quiserem, com os namorados, e que sejam tratados como qualquer outra pessoa. Gostei muito do que falou o ator do programa "Gray's Anatomy" quando se descobriu que era gay: "espero só que não seja a parte mais interessante de mim." Eu, também.

sexta-feira, 14 de setembro de 2007

Traduzindo carinho



Morar num país extrangeiro com uma cultura distinta da minha me apresenta um monte de coisas que eu não entendo e essa falta de entendimento se agrava pelo fato de tudo estar acontecendo em outra língua. Devem existir vários exemplos de situações nas quais eu me expressei mal ou não entendi alguma coisa, mas essas situações sempre se resolvem facilmente. O mais difícil de tratar é a confusão geral que me persegue cada dia, que não surge de uma instância particular, mas é criado do desconhecimento do que os outros esperam de mim. Quer dizer, os mal-entendidos que realmente têm consequéncias sérias não são aqueles onde se trocam as palavras e dos quais se sente vergonha depois, porém são as situações em que existem diferenças culturais que não podem ser traduzidas. Nesse caso, estou falando de mal-entendidos que não vêm apenas da língua. Por exemplo, na minha cultura, quando se abraça e se beija é por causa da amizade íntima. Aqui é apenas uma maneira de se cumprimentar. Eu adoro que os brasileiros se beijam mais do que nos Estados Unidos, mas tenho que lembrar que um abraço brasileiro não significa necesariamente tanto carinho como um abraço americano. Eu já sabia desse fenómeno antes de vir para Salvador, mesmo assim é um aspecto da cultura brasileira que leva tempo para realmente entender.

Malentendidos no Brasil

Até agora não tive muitos problemas lingüísticos resultando em maltentendidos aqui no Brasil. O meu problema principal tem sido o problema de traduzir o meu senso de humor. Em inglês, acho que sou uma pessoa muito engraçada. Isso é em inglês. Ainda não consigo ser muito engraçado em português (pelo menos de propósito,) e às vezes pode chegar a ser até ofesnsivo meu humor, porque às vezes são se traduz do inglês para o português.

Outra coisa que eu acho inevitável são os malentendidos que têm a ver com a conduta pessoal na vida cotidiana. Por exemplo, aqui é normal não ter muita privacidade no quarto, mas eu não gosto disso, e eu acho que nunca vou gostar. Outra coise é que, por exemplo, se eu não como algo que minha mãe brasileira fez, mesmo que já tenha comido muito, ela acha que eu não gosto. Chega a ser um pouco chato ouvir todos os dias "Você não gostou de...?" Vou acabar muito gordo, porque não há outra maneira de convencé-la que eu gostei, só que não quero mais.

quarta-feira, 5 de setembro de 2007

sou eu SOU EU

Meadeville, 6 de Abril de 1986. New Hospital Crawford nasce o segundo filho de Wayne Brewer e Debbie Black. O bebé Owen Black Brewer (Negro Cervejeiro) sofre a endtrada ao mundo com o umbilibal num nó. Alfabetizado por ninguém até os 10 anos, ele gosta mais de basquete e televisão que da escola. Estuda numa universidade para realizar o sonho da mãe, ter o filho que que vai estudar na universidade. Larga da universidade cada oportunidade que dá para fazer inercâmbio em outros países. Perdemos o sonho duma mãe. Ganhamos algo que o planeta não precisa, um neo-hippie a mais. Quem mistura Hippie Hop com tratamento psiquiátrico? Sou eeeuuu SOU EEEUUUU!!!!!!!

terça-feira, 4 de setembro de 2007

Baird (Beh-de)

Michigan, 2, de outubro de 1986. Nasce um menino loiro com olhos azuis, o segundo filho de Ann e Greg Campbell. Criado pelos pais, dois professores de música, começa a cantar desde criança, e aprende logo a tocar piano e saxofone. Estuda no colégio estadual da sua cidade, e depois vai para uma escola de música no Chile para continuar seus estudos. Voltando de lá, se matricula na Universidade de Michigan e começa a estudar línguas estrangeiras.

domingo, 2 de setembro de 2007

Mal-Entendidos

A maior parte dos mal-entendidos que têm acontecido durante meu intercâmbio aqui no Brasil ocorreram porque não tinha entendido as descrições que os meus amigos fizeram para esclarecer o sentido de uma palavra. Felizmente, não tenho encontrado muitos mal-entendidos embaraçosos ainda, talvez porque eu tenho alguns amigos nos EUA que, já hospedados no Brasil antes, tinham me dado algumas dicas sobre o que não devia dizer. Uma colega, por exemplo, me aconselhou que não dissesse que estou fazendo um programa aqui no Brasil - tenho que dizer que estou fazendo um intercâmbio, ou um programa DE intercâmbio. Uma vez depois de comer muito, não conseguia lembrar-me como dizer que não queria mais e, já tendo dito que estava "gravida" em vez de "sem fome" durante o meu intercâmbio na França, não disse nada até alguém de outro falou que "estava cheio." Aí, falei que eu estava, também.
Na capoeira, o mestre da minha escola é a pessoa que escolhe os apelidos dos capoeiristas e, depois de algumas semanas que serviram como prova que ia continuar e não largar o esporte, me batizou com o apelido "Gaivota". Não entendo o que queria significar, os meus capoeristas companheiros tentaram descrever o tipo de pássaro. Pintaram uma imagem de um pássaro cehio de graça, branquinho como eu, de pernas longas que era mais ou menos lindo. Não consegui traduzir a palavra, mas imaginava um tipo de garça ou algo parecido. Ao entrar em casa, achei a palavra no meu dicionário inglês-portugês e descobri que não é exatamente o que pensava...mas eu gosto.
O maior mal-entendido que eu tive aqui com os brasileiros, e muitas das outras estudantes, também, é o desejo de ser só a amiga de um brasileiro e não a namorada. Entre nós, somos todos amigos e muitas das meninas são afetuosas, mas os meninos entendem que é só uma forma de amizade. Porém, muitas de nós, recentemente chegadas, não entendemos que o único fato de falar mais de dois minutos com a mesma pessoa significava que estamos interessadas nela. Além isso, ainda não tinha conhecido uma cultura na qual "ficar" e "beijar" aconteciam sem qualquer forma de relação no dia seguinte. Estava acostumada a sair com uma pessoa antes de ficar com ela e ainda não tenho muitos amigos brasileiros porque me parece difícil sermos só amigos, enquanto tinha muitos amigos (homens) nos EUA e na faculdade americana. Às vezes, acho que os brasileiros falam como se fossem atores de novelas, mas não me interesso no falar sobre coisas superficiais, não é assim que eu posso conhecer uma pessoa. É verdade que os homens e as mulheres não saem juntos sem ser namorados? Não seria um bom sinal para mim porque gosto muito de assistir ao futebol, por exemplo, e gostaria de assistir a um jogo com alguns amigos mas acho que é impossível a menos que sejam americanos ou da minha família de intercâmbio. Não é que eu não gosta de sair com minhas amigas, claro que eu gosto, mais é outra coisa.

quarta-feira, 29 de agosto de 2007

Gringa: Michelle

Bom. Vou falar o que é como é. Às vezes, tento fazer um texto lindo floreado, cheio de descrição elaborado com frases que cumprem cinco linhas, mas escrito um pouco, eu me canso e me pergunto por que eu tenho que complicar as coisas. Mas essa é a minha personalidade: saio de caixa de início de velocidade máxima só para, de repente, me dar conta que se eu continuar assim vou me exaurir antes de chegar ao final, e me acalme um pouco. Depois, me consolo dizendo que rolou melhor assim porque tive tempo para apreciar e aproveitar o que estava fazendo. Um fim-de-semana passado, por exemplo: planejei passar a sexta na praia do Flamengo e a sua cidade, sair de noite, ir para um filme e um show no sábado, sair de novo, visitar bairros de Salvador a pé no domingo. Rapaz, fiquei com preguiça e sono, tirei uma soneca na sexta, fui para a capoeira, passei a tarde de sábado no Porto da Barra (onde eu moro, realmente) e fiz um churrasco em casa com o meu "pai" no domingo - foi maravilhoso. Tive tempo para bater papo com amigos, família, etc., para relaxar-me da semana, é isso o fim-de-semana. De fato, o domingo é o meu dia preferido da semana, porque é o dia que todo mundo fica em família, sem fazer nada. É o dia designado para sair do "mundo real" e esquecer-se um pouco. Aliás, o meu nome é Michelle. Vou estar escrevendo neste blog. Prazer.

[Mal-entendido] NÃO se dança na rua.


Acho que o pior mal-entendido que tive aqui no Brasil foi quando minha namorada e eu fomos agredidos pelo vizinho dela. O que aconteceu foi o seguinte, Carla e eu estávamos voltando de uma pizzaria às 22 horas. Estávamos só 3 casas de chegar no portão da casa da minha namorada e eu estava brincando com ela como sempre faço. Estávamos no meio da rua e eu dancei por cerca de 3-4 segundos com minha bunda para fazer ela rir. De repente ouvimos o vizinho dela gritar de dentro da casa dele, me xingando. Eu só gritei "estou dançando com ELA!" Nós fomos rapidamente à casa de minha namorada e o velho continuou gritando nomes feios. Fiquei muito surpreso que ele gritaria tanto só por um mal-entendido como esse. Ele logo saiu da casa dele e nós corremos para abrir o portão da casa de Carla. Ele chegou antes de poder abrir o portão e me segurou pelo braço e continuou a me xingar na minha cara. Minha namorada e eu estávamos com medo porque ele tinha um olhar muito louco e parecia que ele ia me machucar. Tentei lhe acalmar e falei devagar e tentei lhe explicar que não o conhecia e que eu era dos Estados Unidos. Ele falou "Você é aquele cara!" e não deixou de repetir isso por cerca de um minuto. Minha namorada estava gritando para o velho que eu só estava brincando com ela e que não conhecia o velho e finalmente o homem deixou de segurar meu braço e foi rapidamente embora. Ao mesmo tempo em que ele foi, o pai da minha namorada acordou e estava com muita raiva e queria saber quem nos tinha assaltado. Ele queria ir e dar uma surra no velho mas a irmã de Carla não deixou ele ir porque todos tinham medo que poderia ficar mais feio. Minha namorada estava chorando o tempo todo e não deixou de chorar por 2 horas. Foi uma coisa muito louca. Tenho aprendido que não se deveria voltar andando tarde aqui ainda que seja perto, nunca se deveria brincar na rua porque nunca se sabe quando alguém vai lhe entender mal, e não se deveria dançar porque pode ofender outros. Eu acho que o velho reagiu assim porque ele tem sido abusado por outros jovens e ele pensou que eu era outro desses que queria perturbar. Eu também acho que ele tem problemas mentais porque quem ataca um casal que está dançando no meio da rua e que nem esta na frente da sua casa?! Agora tento sempre ter mais cuidado para não correr o riso de que haja outro mal-entendido como esse.

David Saide...Eu.








Eu me chamo David Saide. Sou um moço bastante alegre e bem humorado que tenta viver aproveitando todos os dias ao máximo. Me defino como um Mexicano Americano com raízes no Líbano, no México e nos Estados Unidos. Tenho vinte anos e estudo na Universidade de Iowa nos Estados Unidos. Faço dois cursos e meio. O "meio" curso é Português e estudo Estudos Internacionais com concentrações em Estudos da America Latina e Direitos Humanos
e também faço curso de Antropologia. Meus interesses incluem: aprender sobre outras culturas, viajar, fazer amizades com diversas pessoas, dançar Break-Dance e fazer competições de Break, fazer trabalho voluntário, falar Espanhol, Português e Îngles, tocar violão, sair e namorar com minha namorada Baiana (levamos mais de um ano juntos =) e às vezes fazer arte no computador. Estou adorando minha estadia no Brasil e estou aprendendo muito. Espero poder conhecer intimamente a cultura Brasileira e entender os pontos de vista dos Brasileiros quando voltar para os EEUU, e claro pretendo conhecer melhor a lingua Portuguesa.

Gringa No 1: Alida Louisa Perrine

Meu nome é Alida e tenho vinte anos. Sou do estado de Michigan onde eu estudo antropologia e história entre outras coisas. Eu me apaixonei pelo Brasil quando eu tinha dezesseis anos e eu morei aqui por cinco meses com meus pais que trabalhavam em Ribeirão Preto, SP. Se apaixonar é sempre uma péssima idéia e eu senti muitas saudades quando eu tive que voltar pros Estados Unidos. Não sou mais cega em relação aos aspectos feios da sociedade brasileira, mas continuo adorando o povo, a música, a paisagem e a língua do Brasil em termos gerais. Estou aqui de volta para ficar por um ano, aprender melhor o português e ter outra experiência brasileira com todos os aspectos maravilhosos e ruins que esse grande país tem para oferecer, dessa vez do jeito baiano.

segunda-feira, 27 de agosto de 2007

Alguns links recomendados:

http://www.saladearte.art.br/ (para checar a programação dos cinemas do circuito Sala de Arte)
http://ibahia.globo.com/ (para programação cultural em Salvador/Bahia)
http://www.caralhaquatro.blogspot.com/ (para ler e se divertir, humor com sotaque baiano)
http://www.jangadabrasil.com.br/index.asp (para compreender um pouco mais a cultura brasileira tradicional)

quinta-feira, 23 de agosto de 2007

Apresentação


Prezad@ Internauta,


“Para que mais um blog neste mundo?”, você pode estar se perguntando. Por que um professor de português para estrangeiros solicita a seus estudantes vindos dos Estados Unidos que tornem públicas algumas das suas inquietações, angústias, certezas, seus conflitos e pontos de vista em relação a uma língua e a uma cultura que resolveram conhecer mais profundamente?

Partindo do princípio de que o processo de ensino-aprendizagem se constrói coletivamente na interação entre professores e estudantes, este blog surge como uma possibilidade de tornar público muito do que tenho ouvido da boca (e lido em seus textos) de seis “figuras” que vieram diretamente dos Estados Unidos para, entre outras coisas mais nobres, provocar em mim reflexões sobre a minha própria condição de falante de uma língua e pertencente a uma cultura diferente da deles. Eu penso que os provoco também a refletir sobre sua condição. Trata-se de uma resposta à constatação de que o que eles escrevem merece sair da sala de aula e ganhar o mundo. E uma forma de devolver os carinhos e as birras de uma convivência em que há respeito e sinceridade.

A condição do professor de português para estrangeiros para uma turma exclusiva de estudantes dos Estados Unidos faz com que me sinta também um pouco estrangeiro. Afinal de contas, em sala de aula, sou eu o que nasceu em um país diferente (Salvador, Bahia, Brasil). Sou minoria, portanto. Isso facilmente se pode ver na própria construção deste blog. Tive várias idéias, dei sugestão de nome, indiquei procedimentos. Ao apresentar para os referidos estudantes, vi muito do que propus cair por terra, ser ressignificado, ou mesmo ser repetido, mas com outro sotaque, de forma que fui logo vendo que esse blog pode ser qualquer coisa, menos o meu blog. A língua é instrumento de negociação, eis a prova!

E não é que eles têm razão? Alida, Baird, David, Frank, Michelle e Owen[1], a partir de agora e pelo menos até o final de novembro, estarão aqui neste blog para partilhar com você muitas de suas idéias. E como eles têm idéias! São seis pessoas completamente diferentes que, o tempo todo, me mostram que nascer em um país é um dentre os muitos fatores que interferem na identidade de um indivíduo. Deve ser por isso que, apesar das muitas diferenças entre nós, é sempre um grande prazer estar entre eles. E se este blog é deles, o prazer é todo meu. Espero que você goste e comente, pois os comentários serão usados como referência para a criação de novos textos (mais uma idéia deles!). Portanto, você que nos visita também tem responsabilidades aqui.

E o que é mesmo “Boca pra fora”? Só lendo o blog para descobrir.

Até mais,

Alex Simões[2]

[1] Estudantes de diferentes universidades dos Estados Unidos, pelo programa de intercâmbio CIEE/Bahia (Council on International Educational Exchange - CIEE), coordenado pelo prof. Dr. Jeferson Bacelar
[2] Professor de português para estrangeiros do projeto de extensão PROPEEP(Programa de Pesquisa, Ensino e Extensão em Língua Portuguesa/Instituto de Letras da UFBa, coordenado pela profa. Dra. Iracema de Souza)