terça-feira, 13 de novembro de 2007

Escola carcerária

Será que um prisoneiro da cadeia se beneficiaria de aprender a escrever, ler, fazer aritmética? Já no século XIX , algumas cadeias tinham salas de aula nas quais os prisoneiros podiam aproveitar os ensinos de um professor-prisoneiro, e pode ser em várias prisões que tem, ainda. Eu lembro de ter ouvido falar de trabalho feito pelos prisoneiros no meu estado de Nova York, mas a escola é uma novidade para mim. Para as pessoas que vão, eventualmente, sair da prisão, eu acho que é uma boa idéia que usem o seu tempo atrás da grade de ferro para se educar, assim se preparando para sair do crime. Mas se eles usassem esse tempo para organizar uma revolta em massa contra o sistema?
Se você achasse que os estudantes-prisoneiros já não estão bem ligados numa rede, se não for em várias, com o mundo dentro assim como fora da prisão, pode ficar feliz na sua ingenuidade. Não vou dizer nada. Eu também nunca visitei uma cadeia e não sei como funciona o mundo de crime; tudo que eu sei é que mesmo com uma força policial continuamente aumentando em tamanho e em capacidade e usando novas técnicas, o crime persiste ainda. O que quer dizer isso? Quer dizer que os criminosos, em geral, estão sempre um passo na frente dos policiais. Eles não ficam no crime por pura sorte; ao contrário, têm que saber se virar. É outro tipo de inteligência. É aquela que você não aprende dentro da sala de aula. É a inteligência da rua.
Agora, eu comecei a viajar um pouco no meu tema, mas isso é bom, e vou viajar um pouco mais: como será se dois meninos se juntassem - um com a sabedoria dos livros, outro com a da rua? Eles reinariam o mundo. Mas não, agora essas são bobagens. Ninguém pode "reinar o mundo" através do crime para sempre porque, afinal, é ilegal e vai ficar preso ou morto um dia. E não podemos achar, ou eu, pelos menos, não posso, que dar uma educação aos presos os preparia para melhor se virar dentro do crime. Ao que eu saiba, muito entraram porque não achavam que tinha outra possibilidade. Muitos cresceram nos bairros onde já existia, viam amigos e parentes fazendo coisas ilícitas, e continuaram nos passos desses.
Enquanto escrevo, eu estou ainda em conflito com a idéia da escola dentro da prisão. De um lado, o cérebro humano tem que estar ocupado. Seja pelo trabalho, seja pelos exercícios matemáticos, seja pela religião, nós temos que ocupar as mentes a maior parte do tempo para não enloquecer. Não é possível ficar sentado num xadrez de 1m x 2m, quieto, dia após dia. Já foram feitos muitos estudos que provam isso, mas eu imagino que cada pessoa tem tido experiència com a chatice e sabe do que eu estou escrevendo.
Do outro lado, seria legal poder dizer que a educação carcerária dá uma chance ao prisoneiro para ele obter trabalho legítimo depois de sair da cadeia. Infelizmente, porém, não podem ser negados os preconceitos em relação a um ex-prisoneiro que deseja ser empre gado. Já passou um tempo sem trabalhar, talvez não tenha terminado o ensino médio, não ganhou experiência como os outros empregados que têm estado trabalhando enquanto ele ficava preso, etc. Mesmo se fosse por uma coisa menor, ninguém quer admitir durante uma entrevista que já foi preso.
Enfim, a escola dentro da cadeia? Boa idéia, eu acho. Utilidade fora da cadeia? Duvidosa. Porém, acabei de lembrar daqueles programas scolares que se realizam pelo correio. Se alguém fizesse isso para terminar o ensino médio e/ou obter uma formação de faculdade, isto deve valer alguma coisa.

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