sexta-feira, 21 de setembro de 2007

Ser Gay no Brasil


Como é ser gay no Brasil? Na Bahia? De fato, eu não sei como é ser gay nem no Brasil nem nos EUA, mas o outro dia participei da Sexta Parada Gay da Bahia que foi do Campo Grande até o Pelourinho e voltou, como todo mundo dançando e pulando como se fosse o Carnaval em setembro. Eu fui beijada, pegada pelo braço e pelos cabelos e empurrada por todos os lados, e posso dizer que eu não quero esperar que o Carnaval chegue, quero agora!
Mas falando sério, eu tenho amigos gays aqui que me disseram que todo mundo finge não reparar que são gays, mesmo se eles fizessem até quase beijar um outro homem na boca na frente da pessoa. Mesmo assim, as pessoas lhes perguntaram se eu sou ou uma das minhas amigas é a namorada dele. Agora, o que eu quero saber é o motivo daquele pessoa, se é que deseja tanto que o meu amiga seja heterossexual, ou se é que acha que está oferecendo um meio de ser aceito na sociedade brasileira. E se importa, realmente, que uma pessoa seja gay? Na minha escola de capoeira, tem um capoeirista com quem todos os outros brincam com as piadas de "viado" porque sabem que é, e ele não tem problemas com isso. Ao contrário: durante o nosso Dia do Batizado, teve uma roda de samba e se vestiu de mulher e fez uma cena durante a qual dois outros "lutaram" pela direita para ficar com ele/ela.
Falando com colegas de faculdade, tive a percepção de que a sociedade dos velhos tem a reputação de ser machista homofóbica, mas elas querem ser vistas como a nova geração que ~e moderna e aceita as diferenças e individualidades das pessoas. Acho que eu sentiria como elas se sentiram se uma pessoa me perguntasse se todos os americanos são realmente fanáticos religiosos e racistas, especialmente contra os imigrantes. Certo que tem um elemento de verdade em todos os esteriotipos, se não eles não existiriam, mas acho que muito menos dos jovens e as idéias deles concordam com eles. Acho que, por ser diferente do normal só, os gays de todos os cantos do mundo enfrentam hostilidade e discriminação; os casos de violência dependem de casos particulares.
Uma coisa que eu sempre achei triste, contudo, são as mudanças de relações que ocorrem quando as pessoas dizem às suas famílias e aos seus amigos que são gays. Para os pais, como toda declaração que mude a idéia que tinham de seu filho, é difícil porque têm um plano para o filho desde o dia do nascimento, independente dos desejos desse último. Porém, não muda nada do caráter nem da alma, pois acho que deveriam adaptar-se o mais rápido possível para não perder tempo - a vida é curta, afinal - não falando com o filho. Isso, de fato, está acontecendo entre os pais da minha melhor amiga e a irmã dela que, em janeiro, falou para todo mundo que é gay. Quando a minha amiga me contou, já sabia e disse isso, mas os pais passaram mal e ainda eu não sei exatamente como é que estão as coisas entre eles.
É engraçado, também, porque aquele dia eu vi eu não sei quantos casais se beijando na rua, mas como seria o dia seguinte? Poderiam fazer o mesmo ou deveriam esconder sua homossexualidade na frente do olhar público? Uma parada gay não reflete nada da realidade que eles enfrentam no dia-a-dia, mas sim é uma representação do ideal que pretendem ter um dia, e quem sabe quando se realizará. O que eu sei é que eu quero que todos os meus amigos tenham o direito de ser eles mesmos e que tenham os mesmos direitos, na frente da lei e da sociedade, que eu tenho. Quero que todo mundo, de fato, não só os que são meus amigos, tenham esses direitos. Quero que se sintam confortáveis estar de mãos dadas, se quiserem, com os namorados, e que sejam tratados como qualquer outra pessoa. Gostei muito do que falou o ator do programa "Gray's Anatomy" quando se descobriu que era gay: "espero só que não seja a parte mais interessante de mim." Eu, também.

Um comentário:

Padre Alfredo disse...

Arrasou com seu comentário. Lindo, leve e solto. "cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é"