quinta-feira, 1 de novembro de 2007

Observações....

Uma diferença marcante entre a vida da classe média no Brasil e a dos Estados Unidos é a prevalência da empregada doméstica. Lá quase ninguém tem esse privelégio enquanto é uma parte muito normal da vida cotidiana de muitos brasileiros. Uma explicação para esse fenômeno é que não existem tantas maneiras de fazer coisas como preparar comida rapidamente aqui como nos Estados Unidos, mas mesmo assim ainda tem famílias brasileiras que não têm uma empregada e sobrevivem de algum jeito.
Como um estudante estrangeiro é interessante refletir sobre essa questão da trabalhadora doméstica no Brasil porque me parece que seria difícil de aceitar o fato de ter um indivíduo, a grande maioria das vezes uma mulher negra, trabalhando em casa fazendo coisas para nós que nas nossas mentalidades seriam coisas que deveríamos estar fazendo nós mesmos, como lavar a roupa e limpar o banheiro. Porém, depois de conversar com uns colegas, vou assinalar a facilidade relativa com que muitos dos estudantes estadunidenses mudaram de idéia sobre essa questão, o que me sopreendeu bastante.
Entre brasileiros de classes média alta que têm empregadas trabalhando em casa, eu esperei as atitudes que tentam justificar o presente sistema, mas ao conversar com meus colegas estadunidense eu não esperei ouvir os mesmos argumentos de que pelo menos é um trabalho para essas mulheres. Para mim, essa argumentação é problemático porque é um trabalho mal-pago e pouco valorizado que cultiva a continuação de pobreza entre gerações e não permite assenção social. Ouvir afirmação desse sistema de estrangeiros é assustador porque uma das vantagens de examinar uma sociedade com uma perspectiva estrangeira é que facilita o criticismo porque a gente não cresceu com esse sistema então fica muito mais fácil questioná-lo para a gente do que para brasileiros que sempre têm tido uma empregada em casa. Ora, se até nós aceitamos a condição dessas mulheres pobres, indica que vai ser uma luta difícil mesmo mudar essse sistema.
Estou estudando aqui no Brasil em parte para tentar entender a sociedade brasileira, inclusive as relações raciais (questão implícita no tratamento de trabalho doméstico) e para ver se esse estudo revela alguma coisa da sociedade do meu país. Existem muitos paralelos entre as duas sociedades e a questão da trabalhadora doméstica brasileira levanta a questão de existir ou não um situação parecida nos Estados Unidos com a mulher negra presa nas camadas mais baixas da sociedade e se talvez ser por isso que alguns de nós aceitamos tão tranqüilmente essa realidade.

5 comentários:

Anônimo disse...

Acredito que esse tipo de trabalho é pouco valorizado porém não deixa de ser um trabalho remunerado o qual permite que a empregada domestica , que não possui escolaridade suficiente para competir num mercado de trabalho que exige muito , se alimente .Acredito que acima de tudo o ser humana precisa comer , e se não fosse esse tipo de emprego , pessoas com baixa escolaridade iriam morrer de fome .

eatbluesmarties disse...

..mas se houvesse escolaridade bom suficiente para todos (não somente para os privilégiados) talvez algumas empregadas domésticas pudesse superar essa vida.

Esta situação em que um grande parte da população fica castigo(economicamente) não vão mudar enquanto brasileiros não valorizam educação para o povo em geral.

Anônimo disse...

Me diga uma sociedade que valoriza a educação então.
A americana?
E o que você me diz dos bairros negros em que a polícia nem entra nos Estados Unidos?
Será que a bandeira da educação é a primeira que devemos defender para a mudança? Ou será que a educação faz parte de um sistema muito maior? Talvez este sistema deva ser mudado primeiro.

Alida disse...

Muito obrigada pelos comentários! Fico muito feliz em saber que esse nosso blog está sendo lido por pessoas de fora e que até está provocando uma discussão.

Acredito que ambos a sociedade estadunidense e a brasileira deixam muito a desejar nos sistemas de educação e que esse problema tem muito a ver com a grande disparidade econômica nos dois países. Enquanto uma mudança radical que mudasse nossa sociedade inteira seria precisa para conseguir sistemas mais igualitários, acredito que pela educação muito é possível. Abrindo esse sistema para mais pessoas é um bom começo que talvez seja uma melhor estratégia para alimentar o povo do que a criação de uma série de trabalhos não necessários que apenas pagam o suficiente para a mera sobrevivência.

eatbluesmarties disse...

Oi anônimo - porque escolha a sistema americana como um exemplo? é bem conhecido que a educação pública nas estados unidas é pessima.
Concordo que a sistema deva ser mudado, mas como fazer?
Sobre a questão de valorização o que eu estou tentando dizer é não podemos separar a valorização da educação e a valorização da cada criança que está nascido. É o grande assunto de igualidade de oportunidade mas tenho dúvidas que a meia-classe quiser enfrentar esta situação..